sábado, 13 de novembro de 2010

Metáforas

Hoje o sol descreveu sua caminhada solitária, sem resquícios da tempestade passada.
Dissipou nuvens e dissabores.
Rápido e tolerante, quedou-se olhando fachadas de prédios, explodiu em arco-íris as vitrinas, refletido em espelhos, narciso...
Desfez em pó o orvalho acumulado da noite, indiferente a infindável mutação cósmica.
Nuvens brancas e sonolentas, rebanho de ovelhas perdidas, tentaram em vão aplacar sua ira sobre as roseiras em flor.
Uma nuvem dourada cobriu o dia, os carros, os objetos, as pessoas apressadas, que desviavam umas das outras, ocultas sob as marquises, alheias ao espetáculo.
Aves sedentas de luz buscavam alto cobrir-se de azul, enquanto bandos de pardais varriam o espaço, dividindo-o com antenas, fios elétricos, artifícios modernos.
No sossego do cair da tarde, silenciaram cigarras e a odisséia dos grilos tentou preencher o espaço vazio de calor.
Aplacou a cólera dos boêmios ver sua despedida. 
Risíveis amores.
Despertou amantes, vida noturna.
Lânguido, ainda desafiou o horizonte, tingi-o de púrpura, sangrou até a última gota do dia.
(fev/1988)

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