Nada é mais contundente que uma ironia.
Se dita na hora certa, tem um poder destrutivo inestimável.
Fora assim que ela se vingara das noites mal-dormidas, dos finais de semana esperando ao lado do telefone, das promessas vazias.
Como nas músicas, ela cansara de sofrer por quem não lhe dava valor. Ou dava, sempre que lhe era conveniente.
A mantinha numa espécie de teia, de limbo, manipulando-a, vendo-a se debater como um rato num labirinto.
Que espécie de prazer isso lhe dava? Dificil dizer.
Mas, é da natureza humana querer se sentir superior, e para isso, é preciso platéia, platéia cativa.
Mas um dia, e tudo tem um fim, ela deixou de lado o medo e o sentimento de culpa que ele lhe incutia por toda e qualquer discussão e, incapaz de dizer cara a cara tudo que lhe engasgara durante anos, tomou caneta e papel e deixou os pensamentos fluirem.
A princípio, um texto longo, cheio de lamentações, acusações, melodramático, uma tortura.
Ao reler, enxugou aqui e ali, refinou o vocabulário e permitiu-se analisar na terceira pessoa.
Logo ela, mulher madura, na casa dos 40, com experiência de vida, bonita, inteligente, cercada de amigos, protagonizar um dramalhão mexicano!
Lembrou com um sorriso os momentos bons, que sem dúvida houveram. Mas eram tão poucos, e já havia tanto tempo, que pareciam lembranças de outra pessoa, talvez de um filme B, assistido nas madrugadas de insônia.
As brigas, as discussões, essas sim estavam vívidas em sua memória.
Mas, assim como secaram as lágrimas, tudo que dera motivo aos aborrecimentos, parecia se desfazer no ar e tornar-se insignificante.
E foi assim, pondo para fora, ou para dentro do papel, que encerrou um capítulo de sua estória.
A ironia?
É saber que um dia dissera que apenas um momento bastaria para tornar tudo eterno... e que finalmente o que se tornara eterno era o esquecimento.
A ironia?
É saber que um dia dissera que apenas um momento bastaria para tornar tudo eterno... e que finalmente o que se tornara eterno era o esquecimento.
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